Venda forçada do TikTok é tudo o que um negócio não devia ser

O TikTok é a rede social que mais cresce no mundo. Já possui mais de 800 milhões de usuários e está entre as plataformas com mais usuários ativos, isto é, que a usam frequentemente. É uma rede de vídeos geralmente muito popular entre os jovens e que foi a mais baixada durante as medidas de isolamento contra a Covid-19. Seu segredo é o sistema de inteligência artificial que alimenta as buscas. Funciona melhor do que os algoritmos dos concorrentes para descobrir outros vídeos que as pessoas queiram ver. O que faz o TikTok ter usuários que passam mais tempo vendo seu conteúdo. A criação é de uma empresa chinesa, ByteDance, que tem duas versões da plataforma. Existe uma com outro nome, Doujin, com recursos que só funcionam na China. E o TikTok, que é popular no exterior. Com a solução, o governo chinês manteve a pretensão de controlar o que a população vê e consome. Mas no exterior o TikTok tem uma história de sucesso, sinalizando o poder das ideias inovadoras chinesas de disputar o mercado de aplicativos. Hoje há um usuário estrangeiro no app para cada morador da China. Mas Donald Trump entrou no caminho do TikTok.

Dando vazão a algumas paranoias sobre o aplicativo, como aquela de que o TikTok seria uma plataforma-espiã, passando dados pessoais de negócios dos usuários dos Estados Unidos, ao Partido Comunista chinês, tomou em agosto uma atitude pouco capitalista. Ou a ByteDance venderia o app a uma empresa americana ou o TikTok seria banido em 45 dias – prazo que vence nesta terça. Um dia antes do prazo final, nesta segunda, a venda foi sacramentada, segundo o Wall Street Journal, para a Oracle, empresa de tecnologia que era uma das maiores do mundo até dez anos atrás, mas foi perdendo espaço com ascensão da Amazon, Facebook e Netflix. Seria o negócio da década para a Oracle, que de repente deixaria de representar o “velho” mundo da tecnologia, dos sistemas e redes, para ficar com um serviço popular e inovador. Mas este não é mesmo um negócio normal. Dias atrás, a China proibiu que tecnologias como a inteligência artificial usada no Tik ok possam ser repassadas ao exterior.

Sem acesso ao algoritmo, a Oracle deve ser responsável pela proteção de dados dos usuários nos Estados Unidos e participar da operação do aplicativo. Será parceira, não dona do TikTok. E não se beneficia diretamente da tecnologia inovadora. É um momento estranho para as fusões e aquisições, eventos que costumam ser comuns e espontâneos. Momento em que governos interferem na liberdade de empresas de fazerem negócios. Ou que possam vender os ativos que quiserem se são criação sua. Momento em que tecnologias comerciais passam a pertencer a um país. E em que todos, governos, empresas e usuários, saem perdendo. É claro que a China não é santa, precisa ser investigada, mas entendo que este não é o melhor caminho.

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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