Corregedor vai pedir afastamento do juiz flagrado em vídeo violentando e humilhando ex-mulher

Ministro Luis Felipe Salomão disse a interlocutores que vai propor afastamento do juiz Valmir Mauricí Junior. Votação no conselho será no dia 11 de abril

O corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luís Felipe Salomão, vai propor o afastamento do juiz Valmir Maurici Junior, segundo apurou a GloboNews. O juiz foi flagrado em áudios e vídeos violentando e ameaçando a ex-mulher e gravando outras mulheres sem autorização. 

O pedido de afastamento, medida mais dura no CNJ, será apresentado no dia 11 de abril, quando o conselho se reúne para analisar o caso do juiz. A suspensão das atividades estará prevista no pedido de processo de investigação interna, como medida à altura da gravidade das denúncias.

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Na última terça-feira (28), o CNJ já havia dado prazo de cinco dias para que o magistrado se manifestasse sobre as acusações. Em nota, a defesa dele disse que “nega veementemente os fatos que lhe são imputados e repudia com a mesma veemência vazamentos ilegais de processos que correm em segredo de Justiça”.

Já o CNJ afirma que o ministro Luis Felipe Salomão “determinou atenção prioritária às denúncias envolvendo fatos que repercutem na esfera criminal, com mapeamento e fiscalização dos inquéritos policiais e ações penais contra magistrados, em trâmite em todo o território nacional”.

Acusações
Novos vídeos foram revelados pelo Fantástico neste domingo (2) (assista abaixo). Nas imagens, Valmir Maurici Júnior aparece filmando outras mulheres com câmeras escondidas. E um dos áudios, de acordo com a acusação, foi gravado quando ele tentou sufocar a ex-esposa dentro de um carro.

O juiz e a mulher, de 30 anos, se casaram em 2021 e moravam em Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo. Segundo a defesa da mulher, a violência começou depois dos seis primeiros meses de relação.

Em janeiro, ela obteve medida protetiva na Justiça, com base na lei Maria da Penha, que proíbe o juiz de se aproximar e de manter contato com a vítima e com pais e familiares dela. Na mesma decisão, Maurici Júnior também foi obrigado a entregar a arma a que tem direito por ser magistrado.

Em entrevista ao repórter Giovani Grizotti no dia 27 de dezembro, a vítima detalhou a relação com o juiz. Ela o conheceu em outubro de 2020, quando ele vivia em Santa Catarina e ela, no interior de São Paulo. Em dezembro de 2021, ela se mudou para Caraguatatuba para morar com Maurici Júnior.

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“Eu conheci ele quando ele me mandou uma mensagem pelas redes sociais e me convidou para jantar. Na época, ele morava em Santa Catarina. Eu ficava muito com ele em Santa Catarina. E ele era uma pessoa encantadora. Parecia um príncipe (…) eu fiquei muito apaixonada”, disse.

A relação dos dois, conta, começou a ficar violenta aos poucos, e ela não queria o fim da relação:

“Ele sempre falou do sexo com força, mas eu não entendia o que era isso. Eu sofri todo tipo de violência com ele. Violência sexual, moral, física, psicológica. Ele usava de vários mecanismos para me deixar confusa. Ele falava: é só dar um tapa. Eu consegui perceber que saiu do contexto sexual quando eu tava na cozinha, fazendo alguma coisa, ele me dava um tapa na cara, puxava meu cabelo”, afirmou.

Registros no cofre

A vítima afirma que não tinha provas da violência. Foi então que colocou o celular no quarto, na direção da cama, para tentar flagrar agressões. A mulher conseguiu filmar um tapa dado nela pelo juiz enquanto os dois estavam deitados.

Também registrou xingamentos e empurrões, quando ela estava na frente dele perto da porta do quarto. Ambos os registros são de 2 de outubro de 2022, de acordo com a mulher (veja no vídeo acima).

Ao sair de casa, a vítima levou consigo um cofre que, segundo ela, Maurici Júnior mantinha no escritório da casa. Dentro, havia, entre outros arquivos, um vídeo aparentemente filmado pelo próprio juiz. Segundo a vítima, a gravação foi feita em 10 de abril de 2022.

O g1 teve acesso ao vídeo, que mostra os dois durante uma aparente relação sexual em que a vítima aparece deitada sobre uma cama, de costas, e com os pés e mãos amarrados.

Na cama, ao lado da vítima, há uma folha de papel com itens que o juiz vai riscando aos poucos — segundo a mulher, são os motivos pelos quais, para ele, ela deveria ser castigada. É possível ouvir a voz de Maurici Júnior, que dá tapas nas nádegas da vítima com uma palmatória.

Há, então, o seguinte diálogo:

Valmir Maurici Júnior: “Você se faz de cretina como meio de vitimização… você quer parar? Tá chorando?
Vítima: ela sinaliza que não com a cabeça: “Não tem dor no corpo”, diz.
Valmir: “Dor no que?”
Vítima: “Na alma”.
Valmir: “Mas a gente tá fazendo o corpo doer pra alma sarar”.
No final da gravação, ele pergunta se a mulher gostaria de ser “penetrada”, e ela mexe a cabeça em sinal de positivo.

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Em entrevista, a vítima disse que não consentia com relações assim e que não tinha opção:

“Na verdade, eu nunca consenti com aquelas coisas. Eu não tinha opção. Então, a violência eu nunca consenti com nenhuma violência. Mas eu era casada”, disse a mulher. Ela afirmou ter ficado dois dias de cama depois da cena. E que “não tinha nada de fetiche” na situação.

O fato de a mulher ter levado o cofre da casa do casal fez Valmir Maurici Júnior acusar a esposa de furto qualificado — um inquérito a respeito está em andamento na Delegacia de Caraguatatuba. No entanto, a Polícia Civil de SP pediu o arquivamento do inquérito, sem indiciar a mulher.

A vítima conta que tentou manter o casamento, mas foi entrando em desespero e chegou a tentar suicídio:

“Passava pela minha cabeça: por que eu to passando por isso? (…) Por que ele faz isso comigo? Eu tinha vergonha. Eu só queria manter meu casamento. Não queria ser julgada socialmente pelas pessoas. Eu só queria que aquilo acabasse logo. Era horrível. Um sentimento de culpa muito grande. De acreditar que de certa forma eu merecia aquilo. Eu cheguei a tentar suicídio.”

Ela dizia se sentir culpada na relação e que era humilhada pelo juiz:

“Eu queria morrer. As acusações eram muito grandes, sabe? Nunca ele estava errado. Era sempre a minha culpa. Do jeito que ele falava, do jeito que me humilhava, me chamava de burra, de fraca, que era patética. Intelectualmente ele destruía. E eu não aguentava, porque isso era todos os dias”, afirmou.

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