Entidades dizem que governo federal distribuiu insulina para apenas 11% dos pacientes

A cirurgiã-dentista Thais Paradella recebeu o diagnostico de diabetes Tipo 1 bem cedo, aos quatro anos de idade. Hoje, aos 40 anos, ela luta para manter o tratamento que, apesar de ser oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ela acaba tirando do próprio bolso para manter a saúde em dia.  “No meu caso eu tomo insulina uma vez por dia de manhã e a cada refeição eu tomo uma insulina ultrarrápida, no café da manhã, almoço e jantar. Eu gasto em média R$ 1.000 por mês só com insulina”, afirma. Conseguir de graça o medicamento já virou um sonho distante. Ela conta que a burocracia ainda é o principal obstáculo. “Eu peguei toda a documentação pedi para o meu médico para preencher, entreguei laudo médico, receita e exames. A prefeitura me solicitou holerites também e, passando um tempo, eu recebi uma carta dizendo que eu não teria direito por condição social”, explica.

O drama da Thais é o mesmo de muitos brasileiros que precisam de insulina para controlar a doença.  Segundo um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a ADJ Diabetes Brasil,  o governo federal adquiriu, em 2018, insulinas para atender 396 mil brasileiros. No entanto, pouco mais de 43 mil pessoas, apenas 11% do total, tiveram acesso as doses até setembro desse ano. Para Karla Melo, médica endocrinologista e porta-voz da Sociedade Brasileira de Diabetes,  a pandemia é mais um agravante. “Hoje, essa insulina se encontra com estoque bastando limitado e o pior é nessa fase que estamos vivendo de pandemia por Covid-19 porque as pessoas com diabetes que não tem o controle glicêmico adequado se expõe até a forma mais grave da doença.”

Vanessa Pirolo, coordenadora de projetos da ADJ Diabetes Brasil, explica que a preocupação da entidade é que é que o prazo de validade desses medicamentos está prestes a vencer. Dos quase quatro milhões de insulina encomendadas, quase um 1,5 milhão vencem até o meio do ano que vem. “A gente sabe que, via lei de acesso a informação, dessas insulinas uma parte vence em dezembro e que estas insulinas estão na posse das secretarias estaduais de saúde. Outros lotes vão vencer em março do ano que vem. Então a quantidade é muito grande, são 3,9 milhões de canetas compradas, sendo que elas estão sendo muito poucas consumidas. Vai ter desperdício de qualquer jeito.”

Em nota o Ministério da Saúde informou que 24,8 milhões de doses de insulina foram distribuídas em 2019. Neste ano, até o mês de agosto, 39,5 milhões de unidades foram disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde. Ainda segundo a pasta, tanto as ampolas quanto as canetas são ofertadas regularmente pelo pelo SUS. Já a insulina de ação rápida é disponibilizada apenas para os pacientes cadastrados e que atendem os critérios estabelecidos no protocolo clínicos e diretrizes terapêuticas, elaborado pelo ministério.

*Com informações da repórter Hanna Beltrão

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