Especial Eleições 2020: Os desafios que a pandemia impõe aos candidatos na área da saúde

Há cinco anos, a Maria Edjacir Nogueira descobriu que tem um desgaste crônico no quadril. Desde então, ela luta para conseguir fazer uma cirurgia pela rede pública de saúde, mas até agora sem sucesso. “O médico falou que se eu não fizer essa cirurgia rápido eu vou ficar sem andar. Já estou praticamente sem andar porque vivo dentro de casa, da sala pro banheiro. Não tenho condições de sair para resolver nada, tudo preciso de alguém para me levar e para me trazer”, conta. A espera para marcação de exames e consultas já era um problema na maior parte dos municípios do país e deve aumentar no ano que vem. Por causa da pandemia do coronavírus, muitas cidades suspenderam os atendimentos de especialidades, como cardiologistas e oftalmologistas.

Na avaliação do professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP, esse será um dos grande desafios na área da saúde para os próximos prefeitos. “É um represamento de seis meses, vai e muito difícil por isso em dia. Tem que tentar, por o bloco na rua e começar”, afirma. E por falar em bloco na rua a atenção básica, aquela onde o médico de família vai de casa em casa também é de responsabilidade dos municípios e pode diagnosticar doenças na fase inicial, evitando internações. Mas uma novidade que surgiu durante a pandemia também pode ajudar no atendimento básico. Na opinião do professor Nathan Mendes Souza, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, os gestores não poderão ignorar a telemedicina. “Tem essa questão de poder acionar um profissional para falar estou com tosse, sem olfato e com dor de garganta. Eu preciso ir aí? Então isso tem ajudado muito, muito mesmo”, explica.

Além da atenção básica e das consultas, as prefeituras também são responsáveis pelos hospitais e pela atenção integral, que atende pacientes que precisam de acompanhamento de reabilitação depois de cirurgias e internações. Para isso, a prefeitura precisa usar recursos próprios e aqueles repassados pelo governo estadual e federal. Outra preocupação do professor Gonzalo Vecina Neto, da USP, é que faltem recursos para manter os leitos criados para atender casos da Covid-19. Segundo o Conselho Federal de Medicina, foram 23 mil novos leitos de UTI no SUS entre janeiro e junho. Atualmente, o país tem 317 mil unidades. “Os sinais que nós etmos recebido não são de que esses aportes serão mantidos, isso é muito grave. Demanda existe, com certeza, e isso vai piorar”, conclui.

*Com informações da repórter Nicole Fusco

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