Fogo no Pantanal: Brasil não tem estrutura para enfrentar o tamanho do problema, avalia deputado

O Brasil não tem estrutura para enfrentar e combater as intensas queimadas que assolam o Pantanal, avalia o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP). O parlamentar, que é presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, explica, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, que esteve na área afetada, conversou com a população local e com pesquisadores sobre o assunto e define a situação como “muito grave”. “O Brasil não tem estrutura, os voluntários atuando de maneira desorganizada. Esse tipo de incêndio não se apaga com a mão, precisa ter estrutura mais robusta. A área queimada é grande, são 2,3 milhões de hectares e deve chegar a 3 milhões de hectares até o fim da semana. É uma situação muito grave”, afirma. Segundo Agostinho, os incêndios na região já atingiram uma área equivalente a 15 vezes a cidade de São Paulo. Para ele, a situação é um “desastre sem precedentes”.

“Não temos estrutura para fazer o combate efetivo aos incêndios florestais e eles não estão acontecendo apenas no Pantanal, mas em muitos lugares no país. Precisamos preparar o Brasil para fazer esse enfrentamento, nós não temos estrutura para enfrentar o tamanho do problema. [Atualmente], são cerca de 100 pessoas para combater alguns milhões de hectares de incêndio no Pantanal. É um número muito pequeno. Não temos aeronave, eles estavam tentando apagar o incêndio com aeronaves de pulverização agrícola. O Brasil por ter metade do seu território com florestas, precisa ter uma estrutura melhor. No Pantanal apontam que cinco fazendeiros resolveram queimar o pasto e o fogo perdeu o controle. Mas independente das causas, precisamos de uma situação melhor. Não dá para soltar os brigadistas lá, jogar o corpo de bombeiros que está acostumado a combater fogo na cidade  e falar: se vira. Não dá”, reforça.

Na visão do deputado, as mudanças climáticas também são fatores que influenciam as queimadas da região, embora não sejam os únicos motivos para o aumento expressivo dos focos de calor. “A gente nunca consegue comprovar que determinada seca é pelas mudanças climáticas. O Mato Grosso é estado que mais desmata, então provavelmente temos um conjunto de fatores. Acredito nas mudanças climáticas, trabalho com dados e pesquisa, acredito que elas intensificam os problemas. Mas com o desmatamento no norte do Mato Grosso, no ano passado, perdemos 200 mil hectares de floresta. Com menos florestas menos umidade também”, opina o parlamentar, que diz ter sido “muito triste” ver todo o “estrago e destruição” que atingiram o Pantanal. Rodrigo Agostinho afirma que os problemas se intensificaram recentemente, embora reconheça que os desafios ambientais e a dificuldade para o combate os incêndios florestais são heranças de outros governos. “Precisamo de duas frentes para combater o fogo, uma é a emergencial e a outra é criar uma economia para a floresta. Não dá para manter a floresta e achar que ela será conversava apenas pela sua importância. É o patinho feio do orçamento, sempre fica de lado. O que chama atenção é que houve uma desestruturação muito forte de alguns setores, tanto no governo federal quanto no estadual. O Ibama e o ICMBio estão sucateados. Já tínhamos problemas que vinham de governos passados, mas eles se intensificaram. Só no ano passado perdemos mais de um milhão de hectares de florestas”, avalia.

Segundo o parlamentar, a audiência pública que acontece nesta segunda-feira, 21, e na terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) busca discutir a crise ambiental e as medidas que estão sendo tomadas pelo governo federal e entender se é possível utilizar R$ 250 milhões do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima para as ações de combate ao fogo. A audiência foi convocada pelo ministro Luís Roberto Barroso depois da Rede, PSOL, PSB e PT recorrerem ao tribunal contra o fim de fiscalizações e programas. Ao todo, estarão presentes no evento os os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, a ministra da agricultura, Tereza Cristina, os ministros da ciência e tecnologia e de Minas e Energia, o presidente do Ibama e representantes do ICMBio, além de outras autoridades.

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