Indígena com Covid-19 perde o bebê após médico se recusar a fazer parto e percorre 500 km para conseguir ajuda em MT


A indígena foi transferida para Água Boa, a mais de 500 km de distância de onde mora, com o bebê morto no ventre, porque o único cirurgião do hospital tem mais de 60 anos. Indígenas da Aldeia Madzabdzé
Adriano Gambarini/OPAN
Uma indígena de 26 anos, grávida de 38 semanas, diagnosticada com Covid-19, precisou ser transferida para o Hospital Regional de Água Boa, a 736 km de Cuiabá, após a recusa de atendimento do Hospital Regional João Abreu Luz, em São Félix do Araguaia, que fica a cerca de 500 km de onde ela mora, depois de perder o bebê.
O G1 tentou entrar em contato com a Prefeitura de São Félix do Araguaia, mas não obteve retorno.
Conforme denúncia feita pela Operação Amazônia Nativa (Opan), Liliane Xavante chegou ao hospital João Abreu Luiz, que fica sob a gestão municipal, ainda com o bebê vivo no ventre. A recusa no atendimento teria ocorrido sob a argumentação de que o único cirurgião do hospital teria mais de 60 anos e, por isso, integraria o grupo de risco, e não poderia realizar o parto.
Longe do apoio afetivo dos parentes de sua aldeia, a indígena teve que sofrer a perda do filho e a discriminação.
Assim, Liliane Xavante foi transferida para outra unidade hospitalar. Percorreu um trajeto de 500 quilômetros por estradas de terra com o filho morto no ventre. A retirada da criança só ocorreu 72 horas após o óbito, no Hospital de Água Boa.
Os problemas enfrentados pelo povo Xavante têm mostrado que uma pandemia não pode ser derrotada sem os esforços de muitas frentes. Por isso, Ivar Busatto, coordenador-geral da Operação Amazônia Nativa (Opan), ressalta que articulação e diálogo são primordiais. “É preciso trabalho conjunto. O planejamento de uma comunicação mais ampla garantiria o sucesso de muitas ações e combateria discriminações. O desafio está lançado para todos que podem colaborar no enfrentamento dessa pandemia”, afirma.

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