Mais de 700 acidentes com cobras são registrados em MT neste ano


No ano passado, foram 1.418 acidentes com serpentes. Falta de soro antiofídico tem sido um problema no atendimento às vítimas. Maioria das picadas foi por jararacas
Ignácio Coella
Um total de 748 acidentes com serpentes foram registrados desde janeiro em Mato Grosso. Conforme dados da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (SES), de janeiro a dezembro do ano passado, houve 1.418 acidentes com cobras.
Recentemente, foram registrados dois ataques de jararacas envolvendo o funcionário de uma fazenda, de 29 anos, em Denise, e uma médica, em Nobres.
Giovani Lima Corrêa ficou internado por três dias no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) e morreu na segunda-feira (31), depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória. Ele foi picado quando estava trabalhando.
Giovani Lima Corrêa, de 29 anos, morreu após ser picado por cobra em Denise (MT)
Arquivo pessoal
Ele foi socorrido pelos próprios funcionários da fazenda e encaminhado a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Após receber os primeiros socorros, o paciente foi transferido para o Hospital Municipal de Cuiabá, que fica a mais de 200 km de Denise, pois não tinha soro antiofídico na região.
Médica Dieynne Saugo está internada desde domingo
Instagram/Reprodução
Já a médica Dieynne Saugo está internada desde domingo (31) após ter sido picada por uma cobra jararaca durante um banho na Cachoeira Serra Azul, em Nobres. A cobra despencou com a queda d’água da cachoeira e atingiu a médica que estava logo abaixo. Ela esperou duas horas por atendimento adequado, porque não tinha soro antiofídico nas pousadas e resorts da região.
Assim como em Denise e Nobres, falta soro antiofídico em muitos municípios do estado.
O soro é produzido a partir do veneno retirado da própria serpente. Por isso é importante saber qual a espécie picou a pessoa.
A guia de turismo Marilene Barbosa aconselha que o turista, como foi o caso de Dieynne, comunique o guia para pedir socorro o mais rápido possível.
“Nas cachoeiras e outros lugares que a gente está guiando, estamos sempre com rádio comunicador porque se acontece algum tipo desse fato ou até mesmo a pessoa passar mal, a gente tenta pegar um sinal de celular ou falar pelo rádio e pedir socorro mais rápido”, afirma.
O Centro de Informação Antiveneno de Cuiabá funciona no Hospital Municipal. Atendeu de janeiro a agosto 137 pessoas que foram vítimas de ataques de serpentes.
Desse total, 90% dos casos são de pessoas que foram picadas por jararacas. A pessoa picada por cobra precisa ser levada para o hospital o quanto antes. A demora no atendimento pode resultar em sequelas e até causar a morte.
O coordenador do Centro de Informação Antiveneno, José Antônio Figueiredo, conta que alguns lugares não têm infraestrutura para ajudar pacientes vítimas de picada.
“Temos hoje em torno de umas 25 a 30 ampolas, mas geralmente na quinta e na sexta a gente faz uma solicitação de reposição. Essa distribuição é feita com uma logística que não tem como todos os municípios terem o soro. Até mesmo porque a necessidade de se ter locais com aparato para que se possa ser feito o soro e a gente sabe que em alguns municípios, por mais que tenham o serviço de saúde, não tem uma infraestrutura para atender, por exemplo, um paciente que necessite de intubação ou de uma UTI”, afirma.
A vítima de picada de cobra precisa ser levada para o hospital com rapidez. A demora no atendimento pode resultar em sequelas e até causar levar à morte.
O médico Waldirson Coelho aconselha a fotografar o animal e, se estiver morto, até mesmo levá-lo junto com o paciente para fazer a identificação e aplicar o soro adequado.
“Cada tipo de cobra causa um efeito no corpo da pessoa e é preciso um tipo específico de soro. Então é importante que o animal seja identificado. Isso acelera o atendimento e acelera a recuperação do paciente que é muito importante”, afirma.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) disse que apenas os hospitais podem aplicar soros antiofídicos porque o tratamento precisa de acompanhamento médico.
Já o Ministério da Saúde informa que, por causa da deficiência da produção dos soros, o próprio órgão que é responsável pela própria distribuição do medicamento, tem enviado uma quantidade bem restrita de acordo com as ocorrências e locais dos tratamentos dos pacientes.
Quanto ao caso da médica que foi picada quando estava na cachoeira, a secretaria de Saúde de Nobres, disse que tem o soro, mas que a equipe do local onde fica a cachoeira tem o próprio protocolo de atendimento.

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