Caros leitores, digníssimas leitoras: se agosto é o mês do desgosto, isso não ocorreu no setor automotivo.
Convenhamos, apesar de o mês de agosto dar a impressão de ser um mês com 189 dias, desta vez ele passou rápido e trouxe boas notícias.
O mês acabou com 173,6 mil carros vendidos no Brasil, um crescimento de 6,4% sobre julho, quando tivemos 163,1 mil veículos vendidos.
O lado positivo é que este foi o quarto mês consecutivo de crescimento, após o “quase fim” do lockdown no mês de abril.
Outro ponto positivo é que o resultado deste mês está – em média – 8% abaixo do resultado do primeiro bimestre do ano, quando o mundo era “menos esquisito” do que é agora.
O que devemos celebrar neste mês são as pequenas vitórias. Como o crédito.
Por incrível que pareça, o crédito continua firme e forte. Lógico que tivemos um solavanco naquele período de abril/maio. Mas a situação já se normalizou.
Em julho (é a última informação que o BC liberou), foram liberados R$ 14,10 bilhões em concessões para financiamento de veículos. Praticamente o mesmo volume que registramos em janeiro deste ano, quando tivemos R$ 14,16 bilhões em liberações.
A atual taxa Selic (que se encontra lá no calcanhar) continua impactando positivamente no setor. Em julho registramos as menores taxas práticas, assim como a dilatação gradual dos prazos.
Além disso, algumas coisas voltaram à normalidade: o T-Cross, que em julho arrasou nas vendas e fechou o mês como o carro mais vendido do país, acabou de tomar uma sapatada do GM/Onix, que voltou para a sua posição onipresente no Olimpo.
Mas o pessoal do chucrute joga pesado. O grande destaque de agosto foi novamente a Volkswagen, que cravou 34.125 carros vendidos. Foi seu melhor resultado neste ano.
O ponto é que, depois de longo e tenebroso inverno (20 anos), a VW entrou de vez na briga pela posição de marca mais vendida no mercado doméstico. A diferença para a GM (atual líder de mercado) é de menos de 1,5 mil carros.
E é aqui que o parquinho pega fogo. A briga será pela posição de encerrar o ano como a marca mais vendida do Brasil.
Esse título pelo qual as duas montadoras irão se digladiar, é igual ao Campeonato Paulista: se você perde, o torneio é o “paulistinha”; se você ganha, é o campeonato mais duro do Brasil. Ou seja: vale muito para quem ganha e quase nada para quem perde.
Mas seria um senhor troféu para a “nova VW”, depois de duas décadas de letargia.
Pela mesma ótica, a menção desonrosa do mês vai para o grupo FCA, que voltou a vender até as cuecas para as locadoras.
A Jeep, neste mês, também registrou o seu melhor resultado de vendas no ano (assim como a Fiat). Só que, dos quase 10,5 mil carros vendidos, cerca de 7,5 mil foram para “algumas empresas” lá de Belo Horizonte.
Mas entendo o pessoal da FCA… se eu tivesse os créditos tributários que ela tem, venderia até a mãe (?!)!
VENDA DE VEÍCULOS – MARCAS SELECIONADAS | |||||||||
MÊS | GM | PART. % | VW | PART. % | FIAT | PART. % | JEEP | PART. % | MERCADO |
Janeiro | 35.076 | 19,05 | 29.482 | 16,01 | 25.906 | 14,07 | 8.668 | 4,71 | 184.129 |
Fevereiro | 34.145 | 17,73 | 31.626 | 16,42 | 26.538 | 13,78 | 10.086 | 5,24 | 196.625 |
Março | 25.451 | 16,34 | 25.200 | 16,18 | 23.701 | 15,22 | 7.577 | 4,86 | 155.760 |
Abril | 10.008 | 19,49 | 7.270 | 14,15 | 7.517 | 14,64 | 2.262 | 4,40 | 51.362 |
Maio | 9.964 | 17,61 | 8.773 | 15,50 | 8.772 | 15,50 | 2.577 | 4,55 | 56.593 |
Junho | 19.749 | 16,10 | 21.867 | 17,82 | 16.640 | 13,56 | 7.368 | 6,01 | 122.696 |
Julho | 28.044 | 17,20 | 31.481 | 19,31 | 24.803 | 15,21 | 9.570 | 5,87 | 163.062 |
Agosto | 28.797 | 16,59 | 34.125 | 19,66 | 31.336 | 18,06 | 10.446 | 6,02 | 173.557 |
MÉDIA | 23.904 | 17,39 | 23.728 | 17,26 | 20.652 | 15,02 | 7.319 | 5,32 | 137.473 |
Outra pequena vitória que o setor tem a comemorar vem da parte econômica, com a prorrogação dos contratos de trabalho, a continuidade “mais suave” do auxílio emergencial e o crédito ainda aquecido.
Assim, o cenário que se desenha para o setor automotivo é de um final de ano menos tenebroso.
No acumulado do ano, temos uma queda de 35,8%. São 1,10 milhão de carros vendidos, contra 1,71 milhão no mesmo período do ano passado. Não teremos uma retração de -40% como pregado pela maioria, mas ela oscilará entre -28% e -32%.
Ou, como diria o mineirinho: “Tá ruim, mas tá bom!”
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