Samy Dana: Em alta no Brasil, investimento em ouro vale a pena?

Doze anos atrás, em meio à crise do subprime, um anúncio chamativo era razoavelmente fácil de ser visto nas TVs americanas. E também aqui no Brasil para quem tinha TV a cabo e acesso aos canais dos Estados Unidos. Um sujeito tentava provar a insegurança dos investimentos tradicionais. No caso de ter dinheiro vivo guardado, por exemplo, incendiava uma nota de um dólar enquanto gritava que o único ativo seguro mesmo é o ouro. De um jeito bem menos cômico, o mesmo pensamento parece estar atualmente na cabeça de muitos investidores, inclusive brasileiros. Em pleno ano de 2020, eles vêm comprando ouro para se proteger da incerteza da crise do coronavírus. A cotação do metal superou US$ 2 mil por onça troy em Nova York pela primeira vez há alguns dias. Alta de mais de 30% no ano. Não é preciso comprar barras de ouro para investir. Dá para acompanhar a variação do metal em fundos de investimento, oferecidos por gestoras ou bancos. E também dá para comprar contratos financeiros de ouro na B3.

Mas fazer como aquele homem da propaganda e ter barras de ouro também é possível. Não comprando nos bancos, que não vendem mais ouro como no passado, e sim em empresas especializadas. Nestas, a procura por investidores individuais disparou 75% desde o início da pandemia. As vendas saltaram de R$ 800 mil para R$ 3 milhões por mês. Em média, o gasto é de R$ 10 mil por três barrinhas de ouro. Muitas vezes, segundo as vendedoras, compradas como presente. Mas também existem as compras que ultrapassam R$ 1 milhão. Quase sempre são investidores acrescentando ouro aos seus portfólios. Em São Paulo, funciona até mesmo sistema de delivery para a entrega de ouro. Pelo relato das empresas, as pessoas guardam suas barras em casa, apesar do risco de roubo ou outra violência.

Confira a variação:

Set. 2018 – ago. 2020:  +128%

Set. 2016 – ago. 2018:  +8%

Fonte: Bullion-rates

Isso tudo é muito curioso. Agora, ouro é um bom investimento? Em tempos de incerteza, é. Nos últimos dois anos, a valorização foi de 128%. A subida do ouro acompanhou o temor de investidores americanos de que uma recessão estava a caminho. Mas nos dois anos anteriores a alta foi de 8%. Média de 4% ao ano. Como comparação, o IPCA – a inflação oficial – acumulado entre 2016 e 2018 foi de 9,2%. Sem querer desanimar quem anda empolgado com esta nova febre do ouro, mas acaba sendo o que economistas sempre alertam. O metal pode ser uma boa proteção para as crises. Mas dificilmente no longo prazo… anos, décadas… vai se revelar um grande investimento.

*Samy Dana é economista e comentarista na Jovem Pan.

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