Welber Barral: Avanço das importações depende de renovação do parque fabril

As exportações brasileiras somaram US$ 17,7 bilhões em agosto e tiveram leve queda na comparação com o mesmo período do ano passado, quando atingiram US$ 19,6 bilhões. Porém, essa retração foi menor do que ocorreu no caso das importações: US$ 11,1 bilhões no mês passado contra US$ 15,5 bilhões em agosto de 2019. Esse resultado garantiu um saldo comercial considerável de US$ 6,6, bilhões em agosto e de US$ 36,6 bilhões no acumulado deste ano. Neste mesmo período em 2019, tínhamos US$ 32,2 bilhões de saldo acumulado no ano. Somente uma retomada firme do crescimento econômico levaria a um aumento expressivo das importações brasileiras, devido à pauta do país ser concentrada em insumos e em bens de capital. No caso de insumos, o aumento da importação está diretamente relacionado à utilização da capacidade instalada. No caso de bens de capital, um resultado favorável dependeria de novos investimentos e renovação do parque fabril. Nenhum desses fenômenos é visível no curto prazo.

É neste cenário que o saldo histórico da balança comercial de agosto deste ano se encaixa: baixíssima importação, comparativamente à sazonalidade do período, com exportações marcadas por commodities agrícolas, com preço e quantum crescente. Ainda assim, as exportações foram 5,5% menores que agosto de 2019. Como preocupação, destaca-se o fato de que as exportações de bens industriais caíram mais que a média. A explicação óbvia é o efeito da retração econômica provocada pela pandemia. Destaca-se o impacto na América Latina e, principalmente, na Argentina, que são compradores tradicionais de produtos manufaturados do Brasil.

No caso da Argentina, além da retração econômica, voltaram a vigorar licenças não automáticas de importação que também afetam o fluxo de exportações. Nos demais países, a queda do PIB (média de 9%) tem demonstrado o efeito devastador da pandemia, antevendo-se uma recuperação bastante lenta na maior parte dessas nações. Na realidade, as perspectivas para 2020 no Brasil, apesar da queda gigantesca no segundo trimestre, é de um resultado menos ruim quando comparada à maioria de seus vizinhos. Influi nesta perspectiva a manutenção de consumo via auxílio emergencial, as dimensões do mercado consumidor brasileiro e as perspectivas de alguns setores, sobretudo agrícola, que mantiveram bons resultados, apesar dos efeitos devastadores da pandemia sobre a população.

*Welber Barral foi Secretário de Comércio Exterior do Brasil entre 2007 e 2011 e é estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest.

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